domingo, 13 de maio de 2012

SAUDADE DE MÃE

O amigo Plínio postou nos comentários e eu trago para a frente, em homenagem não somente às mães, mas também ao professor Nelson Camargo.

SAUDADE DE MÃE

Mãe, às veis eu sinto no meu peito,
Arguma coisa que num tem mais jeito;
Uma dor, uma comichão
Que me queima o coração
E...prá acarmá essa dor aguda,
Oio dos lado mais ninguém me ajuda.
Eu vejo, minha MÃE, que sô tão só...
Dá uma vontade de chorá, eu sinto um nó
Na garganta, uma tontura,
Por sofrê desse má que não tem cura,
Que é a saudade docé, minha MAEZINHA,
A mio mãe do mundo, e era só minha.


Era ocê, minha MÃE, que tudo dia
Fazia tudo aquilo que eu queria,
Me ponhava no colo, me contava
As história bunita que eu gostava
O Pedrinho, o Malazarte, a Bruxa feia,
Que pegava as crianças pela oreia
E levava pra bem longe, pra sofrê.
Com medo de que a Bruxa me pegasse,
Se ocê me largasse.
Logo eu fechava os óio...Cochilava
Intão ocê pra cama me levava
E cantava inté eu adormecê.
Agora, minha MÃE, onde está ocê ?


Eu percuro, percuro, faço manha,
Mais me gritam: Cala a boca que tu apanha !
Moleque dos diabo, Lucifé !
MÃE, minha MÃE, onde está ocê ?


Eu bem me lembro... Era uma tarde fria.
Tuda gente chorava e ocê durmia
Sem cubertô, em riba de uma mesa...
Tinha um chero de frô...Duas velas acesa.
Água benta; café, uns pedaço de pão
E uma reza sem fim de um véio capelão.
Despois, o povo inteiro foi saindo.
Ocê num acordo, continuava durmindo.
Então levaram ocê numa cama esquisita
Eu queria ir tamém...sorte marditá !
Me puxaram pra mão, que ocê já vinha
Mais onde tá ocê, minha MAEZINHA ?
Faiz tanto tempo que ocê foi simbora...
Porque numqué vortá pra casa agora ?
Dizem que ocê tá no céu, num posso acreditá...
O que ocê foi fazê lá ?
E... se foi pra ficá,
Porque num fui tamém,
Se ocê me qué tanto bem ?...
Num aquerdito, ocê saiu pra passiá. E um dia há de vortá ...


NELSON BENEDITO DE CAMARGO
Poeta perdoense

17 de fevereiro de 1960

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