O amigo Anibal Sá, me mandou a matéria por e-mail que é muito esclarecedora em relação ao problema pelo qual o país está passando e que já era previsto por quem acompanha o noticiário sério.
Charge:
Roque Sponholz
A Dilma é simplesmente uma trapalhona'
ELIANE
CANTANHÊDE - O ESTADO DE S. PAULO
19 Setembro 2015 | 16h 00
Delfim diz que a
presidente é honesta, mas ‘tem uma visão do Brasil que não coincide com o
País’, classifica a proposta de Orçamento como ‘barbeiragem’ e o pacote fiscal
como ‘fraude’
BRASÍLIA - O ex-ministro, ex-deputado e afiadíssimo economista Delfim Netto,
87 anos, 24 deles no Congresso, como deputado, desfia uma série de adjetivos
demolidores contra o pacote fiscal do governo e é implacável com a presidente
Dilma Rousseff: “Ela é simplesmente uma trapalhona”.
·
Em entrevista ao Estado, Delfim classificou o envio de um Orçamento com déficit ao Congresso
como “a maior barbeiragem política e econômica da história recente do Brasil” e
disse que o pacote é “uma fraude, um truque, uma decepção, não tem corte
nenhum, é uma cobra que mordeu o rabo”.
Quanto ao coração do plano: “A CPMF é um imposto cumulativo, regressivo,
inflacionário, tem efeito negativo sobre o crescimento e quem paga é o pobre”.
A seguir, os principais trechos da entrevista.
‘Foi a intervenção extravagante, exagerada no sistema econômico,
que gerou tudo isso’, diz Delfim
Como o sr. vê a situação hoje?
Com muita preocupação. As pessoas sabem que a presidente é uma mulher
com espírito muito forte, com vontades muito duras, e ela nunca explicou porque ela deu aquela conversão na estrada de
Damasco. Ela deveria ter ido à televisão, já no primeiro momento, e dizer:
“Errei. Achei que o modelo que nós tínhamos ia dar certo e não deu”. Mas, não.
Ela mudou sem avisar e sem explicar nada para ninguém. Como confiar?
Como
define a conversão na estrada de Damasco?
Ela mudou um programa econômico extremamente defeituoso, que foi usado
para se reeleger. Em 2011, a Dilma fez um ajuste importante, aprovou a
previdência do funcionalismo público, o PIB cresceu praticamente no nível do
Lula. Mas o vento que era de cauda e que ajudou muito o Lula tinha mudado e
virado um vento de frente.
Os
ventos internacionais?
Sim. Então, ela foi confrontada em 2012 com essa mudança e com a
expectativa de que a inflação ia aumentar e o crescimento ia diminuir e ela
alterou tudo. Passou para uma política voluntarista, intervencionista, foi
pondo a mão numa coisa, noutra, noutra, noutra... Aquilo tudo foi minando a
confiança do mundo empresarial e, de 2012 a 2014, o crescimento vai diminuindo,
murchando.
E o
uso na reeleição?
A tragédia, na verdade, foi 2014, porque ela usou um axioma da política,
que diz que ‘o primeiro dever do poder é continuar poder’. No momento em que ela assumiu isso, ela passou a insistir nos seus
equívocos. Aliás, contra o seu ministro da Fazenda, o Guido Mantega, que tinha
preparado a mudança, tanto que as primeiras medidas anunciadas pelo Joaquim
Levy já estavam prontas, tinham sido feitas pelo Guido.
Então,
o sr. discorda da versão corrente de que a culpa foi do Mantega?
O Guido não tem culpa nenhuma. E, para falar a verdade, nenhum ministro
da Fazenda da Dilma tem culpa nenhuma, porque o ministro da Fazenda é a Dilma,
é ela. E o custo da eleição é o grande desequilíbrio de 2014.
Qual
o papel do Levy?
Como a credibilidade do governo é muito baixa, o ajuste que ele fez
encontrou muitas dificuldades, não teve sucesso porque não foi possível dizer
que o ajuste era simplesmente uma ponte.
A
presidente não vive dizendo que é só uma travessia?
Travessia sem ponte?
E o
pacote fiscal?
O primeiro equívoco mortal foi encaminhar para o Congresso uma proposta
de Orçamento com déficit. Foi a maior barbeiragem política e econômica da
história recente do Brasil. A interpretação do mercado foi a seguinte: o
governo jogou a toalha, abriu mão de sua responsabilidade, é impotente, então,
seja o que Deus quiser, o Congresso que se vire aí.
A
briga interna do governo não é um complicador?
A briga interna ocorre em
qualquer governo, mas o presidente tem de ter uma coisa muito clara: ele opta
por um e manda o outro embora. Um governo não pode ter dentro de si essas
contradições, senão vira um Frankenstein.
Quem
tem de sair, o Levy, o Nelson Barbosa ou o Aloizio Mercadante?
Quem tem de sair é problema da Dilma, mas quem assessorou isso
do Orçamento com déficit levou o governo a uma decisão extremamente perigosa e
desmoralizadora e isso produziu um efeito devastador.
De
tudo o que o sr. diz, conclui-se que o ponto central da crise é que Dilma é uma
presidente fraca?
Ela tem uma visão do Brasil que não coincide com o Brasil.
Por
que o sr. defendia o aumento da Cide, não a recriação da CPMF?
O aumento da Cide seria infinitamente melhor. CPMF é um imposto
cumulativo, regressivo, inflacionário, tem efeito negativo sobre o crescimento
e quem paga é o pobre mesmo. Ele está sendo usado porque o programa do governo
é uma fraude, um truque, uma decepção – não tem corte nenhum, só
substituição de uma despesa por outra e o que parece corte é verba cortada do
outro. Dizem que vão usar a verba do sistema S. Ora, meu Deus do céu! R$ 1 do
sistema S produz infinitamente mais do que R$ 1 na mão do governo. Alguém
duvida de que o governo é ineficiente?
A
presidente Dilma...
Acho que não, nem ela. Ela sabe disso, só não tira proveito.
E a
Cide?
A CPMF é coisa do século 19, a Cide é do século
21, porque você corta consumo de combustível fóssil, reduz emissão de CO2 e vai
salvar um setor que você destruiu, o sucroalcooleiro. Tem 80 empresas quebrando
por conta dos erros da política econômica. Na hora que você fizer isso, toda
essa indústria renasce.
Quais
as chances de o pacote passar?
Eles vão ter de negociar com a CUT e com o PT, que é o verdadeiro
sindicato do funcionalismo público. Então, é quase inconcebível e vai ter uma
greve geral que vai reduzir ainda mais a receita. É uma cobra que mordeu o
rabo. O aumento de imposto é 55% do
programa; o corte, se você acreditar que há corte, é de 19%; e a substituição
interna representa 26%. Ou seja, para cada real que o governo finge que vai
economizar com salários, ele quer receber R$ 3 com as transferências e o
aumento de imposto. No fundo, o esforço é nulo.
O
sr. diz que os grandes problemas começam em 2014, mas muitos analistas
respeitados dizem que começam antes. Qual a responsabilidade do governo Lula?
Até 2011, o vento de cauda era de tal ordem, a entrada da China foi de
tal ordem, que dava a sensação de que você tinha entrado no paraíso e o Lula
aproveitou bem para um crescimento mais inclusivo, mais equânime. Depois, eu
estou convencido de que foi a intervenção extravagante, extraordinária,
exagerada no sistema econômico que gerou tudo isso. Mexeu na eletricidade,
mexeu nos portos, foi criando um estado de confusão que matou o “espírito
animal” dos empresários, com uma queda dramática do nível de investimento e do
nível de crescimento.
A
diferença é que o Lula nunca fez questão de ser de esquerda, mas a Dilma, que
vem do velho PDT brizolista, nacionalista e estatizante, tem esse compromisso?
O Lula é um pragmático, uma inteligência extraordinária. Já a Dilma tem,
sim, o velho problema do engenheiro, o engenheiro Brizola, que por onde passou
destruiu tudo, destruiu de tal jeito o Rio Grande do Sul que ninguém mais
salva. Ela tem uma ideia intervencionista, realmente não acredita no sistema de
preços. Veja essa escolha dela no pré-sal, é inteiramente arbitrária. Foi dar
para a Petrobrás uma tarefa muito acima do que ela é capaz. Nada mais infantil
no Brasil do que a sua esquerda, facilmente manobrável.
Quem
é a esquerda no Brasil hoje?
No Brasil de hoje, esquerda e direita são sinais de trânsito. O fato é
que a Dilma é uma intervencionista e foi a crença de que ela não mudou, e de
que a escolha do Joaquim foi simplesmente um expediente para superar uma
dificuldade, que não deu credibilidade ao plano de ajuste.
Além
de perder credibilidade junto aos empresários, a presidente também está
perdendo apoios na base social do PT.
Como ela não explicou que errou e por que iria mudar a política
econômica, o 1/3 que votou nela se sentiu traído de verdade e o 1/3 que votou
contra ela disse: ‘Viu? Eu não disse?”. Sobraram para ela só 8%.
Em
quem o sr. votou?
Na Dilma. Mas acho que o Aécio era perfeitamente “servível”. Teria as
mesmas dificuldades que a Dilma enfrenta, porque consertar esse negócio que
está aí não é uma coisa simples para ninguém, mas ele entraria com uma outra
concepção de mundo, faria um ajuste com muito menos custo e a recuperação do
crescimento teria sido muito mais rápida.
Se a
presidente está com 8% de popularidade, pior até que o Collor, o impeachment
seria uma solução?
Se houver algum desvio de conduta materialmente provado, o impeachment é
um recurso natural dentro da Constituição. Então, não há nenhuma quebra de
institucionalidade, não tem nenhum problema. Agora, o Brasil não é nenhuma pastelaria e não é nenhuma passeata cívica
de verde e amarelo nem panelaço que decide se vai ter ou não impeachment. Não há recall de presidentes. A sociedade votou, que pague os seus
erros para aprender e volte em 2018. Está em segunda época, volte em 2018 para
fazer nova prova.
Então,
o sr. não votaria na Dilma novamente em 2018, se ela pudesse ser candidata?
Não, primeiro porque ela não pode ser candidata. É preciso dizer que eu
acho a Dilma absolutamente honesta, com absoluta honestidade de propósito, e
que ela é simplesmente uma trapalhona.
Numa
eventualidade, o vice Temer seria adequado para a Presidência como foi o Itamar
Franco?
Acho que sim. Nós somos muito amigos. O Temer tem qualidades, é uma
pessoa extraordinária, um gentleman e um sujeito ponderado, tem tudo, mas eu
refugo essa hipótese enquanto não houver provas, e vou te dizer: ele também.